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João Luiz Vieira

2018 pode ser bom para os justos e para os que desejam amor e/ou sexo

João Luiz Vieira

25/12/2017 08h00

Reprodução/Umbanda Eu Curto

Xangô pede passagem em 2018, junto com Iansã e Exu, ou seja, a Justiça, em seu sentido amplo, tenderá a ser cumprida. Isso, claro, para quem tem fé e entende um pouco sobre aspectos das religiões de matrizes afro-brasileiras. Será o fim do "jeitinho" para se obter o que (ou quem) se quer. Ano que pode contemplar os que plantaram (na profissão, no amor, na amizade, na religião) nos meses que findaram.

Xangô "queima" o que não é correto, de forma lenta e definitiva. Tudo a ver para um ano de eleição e julgamentos de pessoas públicas pelos mais variados motivos e, como a coluna trata de sexualidade, pode-se destacar que os próximas trimestres irão reverberar o que as minorias oprimidas (praticamente todos os que não são homens cisgêneros heterossexuais) demarcaram no ano que acaba: machistas, misóginos, homofóbicos, transfóbicos e vitimizadores de uma maneira geral tendem a ser interditados.

A maioria das mulheres heterossexuais entenderam que não podem ficar caladas diante do avanço de outros (ou outras) desautorizados em seus corpos. Foi-se o tempo de guardar ressentimentos por décadas. O momento pede reação imediata, não de resguardos. Se for contra a impertinência, a tendência do oprimido, a partir dos movimentos de 2017, é reunir provas e procurar os meios adequados para denunciar quem agiu incorretamente.

Se for a favor, precisará deixar claro que houve um consenso. De volta à Umbanda, Xangô pedirá clareza em 2018, certo e errado, sim ou não, ou seja, não titubeie em sua decisão contra ou a favor. Quem for ético, em contexto macro ou micro, terá suas recompensas. Quanto aos contrários, também serão recompensados em seus revezes.

Enquanto as mulheres disseram não para a ultrapassagem, transexuais pediram velocidade supersônica em 2017, e isso se consolidará ainda mais nos meses que virão. Ao menos, assim se aposta. Costuma-se dizer que Ogum, orixá ordenador, pede para que diante de uma época de escassez, crie-se uma fila para, por exemplo, obter recursos.

Xangô vai além: idosos, grávidas e crianças à frente. Assim, em ano regido por ele, o respeito à diversidade de orientações e de gêneros, o fortalecimento das identidades, a blindagem de corpos e/ou o macular deles quando assim interessar devem ser tornar prioridades, assim seria, ao menos, justo. Se em 2017, houve o tal "lugar de fala", chegou a vez do "lugar de direito".

Por outro lado, Xangô também é sensual e gosta muito de prazeres: a lenda diz que teve três mulheres, Iansã, Oxum e Obá. Podemos esperar, portanto, por um ano mais sexualizado, com desejos à flor da pele. Um ano, enfim, muito quente. Estritamente do ponto de vista de ética sexual, vou sonhar um pouco. Que as decisões nessa área sejam irrelevantes diante dos caráteres dos indivíduos, deixem de ser assunto nas salas de estar, entre religiosos ou para servidores públicos que gerenciam nossas finanças e administram as leis que nos medem e, por vezes, diminuem nossas liberdades individuais.

Também sonho que as mulheres tenham direitos equânimes aos dos homens, não tenham medo de passar em ruas escuras ou no meio de um paredão de homens sem serem alvo de assédio agressivo – os de bom gosto, em minha opinião, estão sempre valendo. Que, aliás, ressentimentos não nos levem a guetos, quando mais produtivo seriam propostas de diálogo entre os diferentes.

Que os indivíduos também não precisem esperar por tantas autorizações de outrem para extirpar o que quiserem do próprio corpo, sejam ele pênis, seios ou fetos. Que os homens relaxem mais na hora de fazer sexo e descubram que, enfim, as relações sexuais podem ser muito mais divertidas que o que ouviram falar até então. E sempre, sempre, usem camisinha, mesmo casados, porque elas previnem futuras enxaquecas, como as infecções sexualmente transmissíveis em atividade no Brasil. Por fim, que o amor ao outro sempre vença.

Sobre o autor

João Luiz Vieira, 47, é jornalista, roteirista, letrista e educador sexual, ou sexólogo, como preferir. Ele tem dois livros lançados como coordenador de texto: “Sexo com Todas as Letras” (e-galáxia, fora de catálogo) e “Kama Sutra Brasileiro” (Editora Planeta, 176 páginas). É sócio proprietário do site paupraqualquerobra.com.br e tem um canal no YouTube: sexo_sem_medo.

Sobre o blog

No blog dialogo sobre tudo o que nos interessa para sermos melhores humanos: amor e sexo. Vamos encurtar o caminho entre a dúvida e a certeza, e quanto mais sabermos sobre nós, teremos, evidentemente, mais recursos e controle a respeito do que fazer em situações inéditas ou arriscadas de nossa intimidade. Trocaremos todas as interrogações por travessões. Abra seu cabeça, seu coração e... deixa pra lá.

João Luiz Vieira