Blog João Luiz Veira http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br No blog diálogo sobre tudo o que nos interessa para sermos melhores humanos: amor e sexo. Thu, 14 Jun 2018 17:59:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “Me Chame Pelo Seu Nome”: muito além de um filme gay http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2018/01/22/me-chame-pelo-seu-nome-muito-alem-de-um-filme-gay/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2018/01/22/me-chame-pelo-seu-nome-muito-alem-de-um-filme-gay/#respond Mon, 22 Jan 2018 06:00:01 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=378

Divulgação

Ao contrário do que se pode pensar, “Me Chame Pelo Seu Nome”, filme do diretor Luca Guadagnino (“100 Escovadas Antes de Dormir”), adaptado do livro homônimo escrito pelo egípcio André Aciman, de 67 anos, não é uma história de amor. É uma tocante narrativa que discorre sobre a transição da adolescência para a fase adulta centrada nas férias de verão de Elio, vivido com destreza por Timothée Chalamet, 22, indicado ao Globo de Ouro, e que deve repetir a façanha no Oscar.

Elio está na companhia dos pais em um casarão bucólico, numa região indefinida da Itália, quando recebe a visita de um norte-americano, que lá chega para auxiliar o pai do garoto em uma pesquisa para tese acadêmica sobre a estética e a cultura greco-romana. O hedonismo, sempre ele, contamina, assim, o ambiente. Elio e o forasteiro apaixonam-se e vivem um romance de verão que propõe fazer de Elio um homem maior e melhor.

Essa poderia ser uma “longa” logline, jargão que se usa no mundo do audiovisual, para vender uma história. O filme, porém, atravessa outras camadas. Além da interpretação elogiada dos protagonistas, incluindo o até então insosso Armie Hammer (31 anos), o mais interessante da proposta, em ambas as obras, é a suavidade como esse rito de passagem é tratado.

Nada de se levantar questões como assédio moral ou sexual, muito menos de pedofilia, mas, sim, de como esse encontro foi imprescindível na vida de Elio. É verdade que o enredo se passa no já longínquo 1983, ano em que o mundo começava a ficar perplexo com a questão do vírus HIV, e não se questionava as diferentes nuances de uma cantada, não existia a expressão “lugar de fala”, não se discutia (tanto) se um adulto poderia se envolver com um menor. O perigo maior àquela época era se apaixonar e não ser correspondido.

Para o rito, Elio tem alguns facilitadores. Seus pais são cultos, poliglotas como ele, acolhedores, discretos e não pensam em interditar as vivências do filho único, o que é, em si, uma raridade na contemporaneidade: nos anos 1980 e, desconfio, ainda hoje. Isso faz lembrar uma coluna aqui escrita sobre os limites dos pais nos questionamentos em relação às práticas sexuais do filho. Incrível como isso ainda é uma questão, muito bem retratada, aliás, no episódio “Arkangel”, dirigido por Jodie Foster, atriz e diretora norte-americana, na série “Black Mirror”).

Mesmo preocupado com o levante que poderia ocorrer, Oliver, personagem de Hammer, que tem 24 anos, sabe que, mais importante, é servir-se a essa transição. Não é um “drama gay”, muito menos um novo “O Segredo de Brokeback Mountain”, dirigido por Ang Lee há 12 anos. É  uma elegia à paixão, ao calor da juventude e de como somos mais lindos quando estamos apaixonados. É dessa obra um monólogo que fiz questão de escrever quando diante do filme e, sem spoiler, não vou dizer quem o profere:

“Como você vive sua vida é da sua conta, mas se lembre: nossos corações e nossos corpos nos são dados uma única vez e, quando você menos esperar, seu coração estará desgastado, e seu corpo poucos ainda o desejarão, e muitos menos irão querer chegar perto dele”. Simples assim. Responsabilidade e livre arbítrio, sem pudor ou avareza, porque esse tipo de beleza também passa, como todos nós.

 

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Seu pênis tem 13 centímetros e você acha que é anormal? http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2018/01/15/seu-penis-tem-13-centimetros-e-voce-acha-que-e-anormal/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2018/01/15/seu-penis-tem-13-centimetros-e-voce-acha-que-e-anormal/#respond Mon, 15 Jan 2018 06:00:18 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=374

Visual hunt

Por que o tamanho do pênis ainda é assunto ou, melhor, ele sempre será assunto? O tema desta semana é controvertido e a cada par de anos faz-se pesquisas, encomendadas a vários institutos, de nacionalidades diferentes para saber, de novo, qual o tamanho ideal de pênis.

Há sempre umas coincidências nos resultados. A de que, por exemplo, um pênis considerado normal mede, em média, 13,24 cm, em análise em que pesquisadores, muitas vezes, passam a régua em mais de 15 mil homens. Flácido, a normalidade aponta, desculpa o trocadilho, para 9,16 centímetros.

Já a circunferência do órgão, sempre em valores médios, fica entre 9,31 centímetros em repouso e 11,66 centímetros quando ereto. Daí você me pergunta: 13 cm é muito pequeno? Não, não é. No Brasil, por exemplo, o tamanho médio fica entre 14 e 16,7 cm, dependendo da pesquisa, porque nós sempre ficamos entre os dez mais avantajados do mundo.

Outra coincidência entre as pesquisas é que a República Democrática do Congo, na África central, sempre aparece como a nação que tem os homens mais bem dotados do planeta, com 18 cm em estado de ereção, seguido, quase sempre, do Equador, com um comprimento respeitável de 17,5 cm. Bélgica e França vêm depois, com 16,2 cm e 16 cm, respectivamente. Tendo como lanterninhas, China, com 10,9 cm, Índia, com 10,1 cm, e em último lugar Coreia, com 9,3 cm.

Há também pesquisas mais focadas, digamos assim, feitas somente com mulheres. Um dado sempre se repete: as mulheres preferem pênis que fogem dos extremos. Nem grandes demais, nem pequenos demais. Nos aplicativos de paquera e/ou de sexo entre homens, os bem adotados fazem questão de eleger o volume entre as calças como a principal característica a ser consumida.

É, por mais que se reclame, o mundo ainda, ou por muito tempo, ainda é falocêntrico. Você sabia, por exemplo, que muitas atrizes pornôs fazem  histerectomia, remoção de parte ou da totalidade do útero, para conseguirem mais cenas, portanto mais dinheiro, com atores que possuem pênis mais expressivos? Porque, sim, o pênis pode ferir a parede do útero.

Imagine transar com o ator pornô mexicano Roberto Esquivel Cabrera, que diz ter um pênis em posição de ataque de 48 cm. Vou repetir: QUARENTA E OITO CENTÍMETROS DENTRO DE ALGUÉM. Uma ereção menor que 8 cm, e quando flácido perde em tamanho para um pendrive, revela um micropênis, condição de 0,6% dos homens, mas esse é tema para uma outra coluna. Tamanho ou performance na cama, o velho dilema prossegue.

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O ano que começa exige de você muita coragem, amor e perdão http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2018/01/04/o-ano-que-comeca-exige-de-voce-muita-coragem-amor-e-perdao/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2018/01/04/o-ano-que-comeca-exige-de-voce-muita-coragem-amor-e-perdao/#respond Thu, 04 Jan 2018 06:00:10 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=347

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“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!”. A frase foi criada por Guimarães Rosa (1908-1967) para seu livro seminal, “Grande Sertão: Veredas”, publicado há 62 anos.

Ela pode muito bem servir de lanterna para quem acordou, novamente, agora, só que em outro ano, o de número 2018. Os 12 meses irmanados que se distanciaram não foram exatamente fáceis, especialmente porque muitos perderam mais do que era sonhado, de amores a oportunidades, de amizades a rendas fixas. 2017 foi um ano-escola, que nos ofereceu proposta de revisão ética, tanto na vida profissional quanto na intimidade e no comportamento com os colegas. Para os que precisam de asfalto para a estrada nova, algumas reflexões:

1. Passou as festas sozinho (a) (e)? Pode ter sido bom
2. Passou as festas sozinho (a) (e) e sentiu-se mal por isso? Pode ter sido bom
3. Está com expectativa de encontrar um novo amor ainda em janeiro? Pode não ser bom
4. Está com expectativa de encontrar um novo amor no carnaval, que seja, ou até o fim do ano? Pode não ser bom
5. Reviu-se como indivíduo? Teria sido bom
6. Não se reviu porque ficou sem tempo, trabalhou muito? Teria sido bom
7. Ficou sem tempo porque precisou procurar qualquer coisa que lhe garantisse alguma renda? Teria sido bom
8. Trabalhou a si mesmo? Creio que foi bom
9. Descobriu o que lhe serve e o que vai para lixo? Creio que foi bom
10. Descobriu quem você quer por perto e quem não? Creio que foi bom
11. Quis se reinventar e não deixaram? Repense suas companhias ou lideranças
12. Quis se reinventar e deixaram? Grude nessas companhias e lideranças
13. Integrou algo novo em relação à sua sexualidade? Depois do susto, pode ser lucrativo
14. Integrou algo novo em relação à sua sexualidade e não gostou?  Depois do susto, pode ser lucrativo
15. Integrou algo novo em relação à sua sexualidade, e amigos, pais e colegas de firmas não gostarão? O problema, se há, é deles, não seu
16. Integrou algo novo em relação à sua sexualidade, e amigos, pais e colegas de firmas gostarão? Se eles gostarem, ainda assim, é ponto de vista deles, não o seu
17. Percebeu que quer se manter sozinho em 2018? É uma escolha interessante
18. Percebeu que quer se manter sozinho em 2018, mas, eventualmente, transará com desconhecidos, apenas por uma noite? É uma escolha interessante
19. Percebeu que quer se manter sozinho em 2018 porque tem medo dos outros e não quer se relacionar com mais ninguém? Pode ser que precise de ajuda, de um amigo ou de especialista na área da sexualidade, ou não
20. Se vale como dica, diria para não ter tanta expectativa em relação a ninguém, nem a si mesmo. Queira menos, acolha mais. Você entenderá, de fato, o que precisa, assim como o outro, ou outra, se existir, assim o farão. Seja emocional, verbal ou fisicamente.

Termino com trecho de um diálogo do filme “Me Chame Pelo Seu Nome”, de Luca Guadagnino (foto acima), que estreia em breve no Brasil: “Como você vive sua vida é da sua conta, mas se lembre: nossos corações e nossos corpos nos são dados uma única vez e, quando você menos esperar, seu coração estará desgastado, e seu corpo poucos ainda o desejarão, e muitos menos irão querer chegar perto dele”. Ou seja, ame, no mínimo a você primeiro, sem pudor ou avareza. Se quer mudar sua vida em 2018, comece por isso: perdoe-se.

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2018 pode ser bom para os justos e para os que desejam amor e/ou sexo http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/25/2018-pode-ser-bom-para-os-justos-e-para-os-que-desejam-amor-eou-sexo/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/25/2018-pode-ser-bom-para-os-justos-e-para-os-que-desejam-amor-eou-sexo/#respond Mon, 25 Dec 2017 10:00:35 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=327

Reprodução/Umbanda Eu Curto

Xangô pede passagem em 2018, junto com Iansã e Exu, ou seja, a Justiça, em seu sentido amplo, tenderá a ser cumprida. Isso, claro, para quem tem fé e entende um pouco sobre aspectos das religiões de matrizes afro-brasileiras. Será o fim do “jeitinho” para se obter o que (ou quem) se quer. Ano que pode contemplar os que plantaram (na profissão, no amor, na amizade, na religião) nos meses que findaram.

Xangô “queima” o que não é correto, de forma lenta e definitiva. Tudo a ver para um ano de eleição e julgamentos de pessoas públicas pelos mais variados motivos e, como a coluna trata de sexualidade, pode-se destacar que os próximas trimestres irão reverberar o que as minorias oprimidas (praticamente todos os que não são homens cisgêneros heterossexuais) demarcaram no ano que acaba: machistas, misóginos, homofóbicos, transfóbicos e vitimizadores de uma maneira geral tendem a ser interditados.

A maioria das mulheres heterossexuais entenderam que não podem ficar caladas diante do avanço de outros (ou outras) desautorizados em seus corpos. Foi-se o tempo de guardar ressentimentos por décadas. O momento pede reação imediata, não de resguardos. Se for contra a impertinência, a tendência do oprimido, a partir dos movimentos de 2017, é reunir provas e procurar os meios adequados para denunciar quem agiu incorretamente.

Se for a favor, precisará deixar claro que houve um consenso. De volta à Umbanda, Xangô pedirá clareza em 2018, certo e errado, sim ou não, ou seja, não titubeie em sua decisão contra ou a favor. Quem for ético, em contexto macro ou micro, terá suas recompensas. Quanto aos contrários, também serão recompensados em seus revezes.

Enquanto as mulheres disseram não para a ultrapassagem, transexuais pediram velocidade supersônica em 2017, e isso se consolidará ainda mais nos meses que virão. Ao menos, assim se aposta. Costuma-se dizer que Ogum, orixá ordenador, pede para que diante de uma época de escassez, crie-se uma fila para, por exemplo, obter recursos.

Xangô vai além: idosos, grávidas e crianças à frente. Assim, em ano regido por ele, o respeito à diversidade de orientações e de gêneros, o fortalecimento das identidades, a blindagem de corpos e/ou o macular deles quando assim interessar devem ser tornar prioridades, assim seria, ao menos, justo. Se em 2017, houve o tal “lugar de fala”, chegou a vez do “lugar de direito”.

Por outro lado, Xangô também é sensual e gosta muito de prazeres: a lenda diz que teve três mulheres, Iansã, Oxum e Obá. Podemos esperar, portanto, por um ano mais sexualizado, com desejos à flor da pele. Um ano, enfim, muito quente. Estritamente do ponto de vista de ética sexual, vou sonhar um pouco. Que as decisões nessa área sejam irrelevantes diante dos caráteres dos indivíduos, deixem de ser assunto nas salas de estar, entre religiosos ou para servidores públicos que gerenciam nossas finanças e administram as leis que nos medem e, por vezes, diminuem nossas liberdades individuais.

Também sonho que as mulheres tenham direitos equânimes aos dos homens, não tenham medo de passar em ruas escuras ou no meio de um paredão de homens sem serem alvo de assédio agressivo – os de bom gosto, em minha opinião, estão sempre valendo. Que, aliás, ressentimentos não nos levem a guetos, quando mais produtivo seriam propostas de diálogo entre os diferentes.

Que os indivíduos também não precisem esperar por tantas autorizações de outrem para extirpar o que quiserem do próprio corpo, sejam ele pênis, seios ou fetos. Que os homens relaxem mais na hora de fazer sexo e descubram que, enfim, as relações sexuais podem ser muito mais divertidas que o que ouviram falar até então. E sempre, sempre, usem camisinha, mesmo casados, porque elas previnem futuras enxaquecas, como as infecções sexualmente transmissíveis em atividade no Brasil. Por fim, que o amor ao outro sempre vença.

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O ano foi difícil? Se valer como dica, felicidade também passa http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/18/o-ano-foi-dificil-se-valer-como-dica-felicidade-tambem-passa/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/18/o-ano-foi-dificil-se-valer-como-dica-felicidade-tambem-passa/#respond Mon, 18 Dec 2017 06:00:35 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=339

Comecei a sentir os sintomas no fim deste ano, talvez porque é época de Natal. Foi um bem-estar estranho. Uma vontade de ouvir samba. De ligar para uns parentes da adolescência. Uma ideia de compartilhar fotos de amigos. De cumprimentar todos os transeuntes. De perdoar quem fez escolhas erradas. Procurei meu médico imediatamente. O diagnóstico saiu nesta semana: “Você está feliz”. Pior notícia não poderia ter ouvido depois de meses produzindo a partir de lágrimas de sangue, que são ótimas para criativos. Não sei você, mas sempre tive medo de pegar esse vírus da felicidade. O que ouvia a respeito era que as pessoas tinham sintomas muito parecidos, todos assustadores:

1. Gargalhavam (veja bem, não riam, gargalhavam) sobre o nada;

2. Passavam horas ouvindo desabafos alheios, sem se importar com o vampirismo;

3. Dançavam e, pior, cantavam pelas ruas quando ouviam qualquer música alegre com predominância de vogais ou que pregavam autoestima, incluindo Anitta ou Pabllo Vittar;

4. Voltavam a falar com detratores, perdoavam todo mundo;

5. Achavam que tudo poderia ser pior, entregavam tudo para Deus, Jesus ou Oxalá, mesmo contra a minha tese que, infelizmente, sempre precisamos de um pai, já que somos filhos de um “descobridor” ausente (Pedro Álvares Cabral) que assediou nossa mãe (a índia);

6. Fotografavam e publicavam o que ninguém sentia ou via, em redes sociais, tipo momentos felizes, certamente o vírus agindo em grau máximo no cérebro do paciente.

Fiquei assombrado com o diagnóstico. De repente, passaria a ser assim? Um otimista ignorante, como a maioria dos amantes cegos. Felicidade é ser meio cego? Fiquei desesperado com a ideia de dormir bem, comer bem, ser diplomático e não sentir mais dores. O que eu vou fazer com minha melancolia produtiva? Seria relegado a um plano onde as informações ou uma certa tentativa de entender os arredores não me chegariam mais? Ficarei à mercê do que me diriam pra fazer?

Comecei a ter tiques graves. Fazia um rango besta, uma macarronada com as sobras da geladeira, e de repente postava no Instagram. Feliz, veja você. Gostava do meu corte de cabelo novo e jogava no Facebook para contar quantos “tá lindo” escreveriam. Se fosse menos de cinco, aí, sim, eu poderia resgatar minha melancolia. Só que não. Gostavam, como se enfatizassem meu estado calamitoso.

Perguntei ao meu psiquiatra se estava na hora de jogar meus antidepressivos na privada. Não quero entrar nessa zona estranha, onde cicatrizes levam quilos de pancake e nosso sorriso vale mais que nossa lágrima. A má notícia, para você que passou por um 2017 difícil, é que essa doença pode durar alguns meses. Mas, juro, juro mesmo, que pretendo voltar a ser cético e melancólico já na Quarta-Feira de Cinzas. A boa notícia: felicidade não é doença crônica. Também passa.

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Pais precisam saber com quem e como fazemos sexo? http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/11/pais-precisam-saber-com-quem-e-como-fazemos-sexo/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/11/pais-precisam-saber-com-quem-e-como-fazemos-sexo/#respond Mon, 11 Dec 2017 06:00:02 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=306

TV Globo/Divulgação

O conflito de um homem homossexual com sua própria condição está sendo desenvolvido por Walcyr Carrasco na novela das 21h da TV Globo, “O Outro Lado do Paraíso”. Na trama, Samuel (vivido por Eriberto Leão, acima) é um psiquiatra, filho de Adineia (Ana Lúcia Torre, na foto), que se casa com a enfermeira Suzy (Ellen Rocche, de costas na imagem) na tentativa de esconder sua orientação sexual. O médico, que no momento mantém um caso extraconjugal com um homem, também é homofóbico. Por estar em conflito com sua natureza, e por ter armado contra a mocinha do folhetim, Clara (Bianca Bin), terá seu “segredo” revelado para a mãe nos próximos capítulos.

A proposta do autor do folhetim veio a calhar para a coluna, que recebeu e-mail de um homem de 35 anos, financeiramente livre, embora morando com os pais, que decidiu avisar para os seus que se assumiria homossexual. De picadinho. Primeiro para os irmãos. Depois para a mãe. Por fim, o pai. Sei lá para mais qual parente ou colega o rapaz precisou dar satisfações. Talvez um padre, um síndico, um chefe, um líder de partido.

É o drama, mais corriqueiro do que se imagina, de um homem maduro que tem medo da reação de uma senhora vivida, responsável por sua educação (ou não). Vamos fatiar a situação. O rapaz é, legalmente, maior de idade há 17 anos, mas a independência é relativa, já que morar com os pais lhe rouba 2/3 do discurso e/ou da “militância” defender sua identidade (ou não). De qualquer maneira, ele quer avisar a um indivíduo sobre a própria intimidade, ou seja, o mesmo que oferecer um gnu para um leão faminto (ou não).

Primeiramente, isso me faz lembrar de uma situação particular, quando um tio demonstrou que a curiosidade dele a respeito da sexualidade de meu primo atravessaria as paredes que separavam suas camas. Meu primo tinha seus 14 anos. Meu tio informando que ele precisaria “tirar o queijo”. De onde vim, isso significa dizer que virgindade para um adolescente daquela idade seria motivo de chacota na vizinhança.

Lembrei-me, imediatamente, das tragédias de Sófocles (dramaturgo grego, que viveu entre 497 ou 496 a.C. e morreu em 406 ou 405 a.C.), e das cariocas de Nelson Rodrigues (1912-1980): o coro, os vizinhos, gente que espia a fechadura da porta alheia. Da época em que ouvi isso, recordo que o comum era fazer o “serviço sujo” com uma profissional do sexo. Também lembro de outro momento em especial, quando ele quis saber com quem meu primo tinha passado um fim de semana.

Veja você como os pais, em delírio a respeito dos limites entre as relações parentais, acreditam que têm direito de sequestrar nossos dias livres, nossos segredos e, o mais grave, nossos silêncios. Meu primo não se sentiu obrigado a dizer nada, mas entrou na brincadeira. Diante da inquisição imprópria, perguntou ao pai se ele já tinha feito a mãe atingir o orgasmo como ela merecia. Nunca mais meu tio invadiu a privacidade do filho, nem ele a do mais maduro. Onde está escrito que pai ou mãe têm de saber como, quando, com quem, e se gozamos?

Se eu pudesse falar pessoalmente com esse jovem rapaz que mandou o e-mail, diria para ele sair da casa dos pais imediatamente, parar de falar com os outros (quaisquer outros) o que é desnecessário, e esquecer que precisa assumir algo para alguém, como se fosse crime ou se ele tivesse que dizer para a multidão como se posiciona na cama. Só o amor a si mesmo o salvará. Quanto aos pais dele, que se relacionem melhor entre si, e parem de olhar para a vida de qualquer pessoa, até daqueles seres que são resultado de um ato de amor. Pode ser que filhos precisem mais de acolhimento, e menos julgamento.

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Ocimar Versolato: Fast fashion é modismo, alta-costura é estado de espírito http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/10/ocimar-versolato-fast-fashion-e-modismo-alta-costura-e-estado-de-espirito/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/10/ocimar-versolato-fast-fashion-e-modismo-alta-costura-e-estado-de-espirito/#respond Sun, 10 Dec 2017 16:55:41 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=317

Conheci Ocimar Versolato, que desencarnou ontem, há 12 anos. Trabalhava na Folha de S. Paulo e minha chefe à época, Mônica Bergamo, pediu para eu grudar nele. Grudei. Ele estava recomeçando a carreira no Brasil, envolveu-se em problemas com uma sócia, e sumiu. Nos reencontramos na noite, depois no dia, o convidei para uma longa entrevista para meu site, Pau Pra Qualquer Obra (tão extensa, que editei em três tempos), em 2015.

Como estamos migrando de servidor, o site está fora do ar, mas consegui recuperar nossa conversa. Está enorme, mas se gostava dele (ou não que, como eu, era nítido), vale entender o tamanho dessa inteligência. A última vez que nos falamos foi pelo Instagram. Elogiei sua boa forma, e ele, direto como eu, apenas agradeceu. É isso. Basta devolver o bem (ou o mal). Desculpa, senti a necessidade de (re)publicar no dia de sua viagem. Segue:

“Ocimar Versolato é um dos nomes mais importantes da moda brasileira. Mora em Milão, teve problemas com sua grife aqui no Brasil, isso ninguém nega, nem ele, mas uma coisa precisamos admitir: ele fez história antes mesmo de Francisco Costa, da Calvin Klein, surgir em nosso radar, especialmente em Paris. Pertinente ainda?

PPQO – O que você anda fazendo em Milão? Há quanto tempo está por aí? Onde vive e como vê a moda hoje?

Ocimar – Moro no centro de Milão, próximo ao Corso Venezia, há quatro anos, e estou trabalhando muito para ver se é possível, ou pelo menos tentar mudar, esse cenário chato que virou a moda. Sendo dirigida por diretores de empresas de congelados (e suas páginas de publicidade) no lugar do estilista ou criador (eu já havia falado disso na época que estava na Lanvin).

Pelo jeito temos de deixar as coisas tomarem seu próprio rumo e só lamentarmos. Hoje as jornalistas percebem que perderam o poder, assim como o estilista, e quem manda hoje na moda é o dinheiro (por incrível que possa parecer, não era assim). Triste realidade, e chata também. A França é quem sofre muito mais – tem que continuar criando –, a Itália tem sua forma própria de fazer e distribuir moda. E aí a coisa fica difícil.

Os novos estão acuados num canto esperando serem atacados pelos grupos, e os grupos pegam estilistas pouco criativos, sem muita coisa a agregar, mas que são amigos de algumas jornalistas. E aí vem o marketing e a direção das casas de moda e pronto, a catástrofe está anunciada. Não tem coisa mais chata que Marc Jacobs para Louis Vuitton. Deveriam montar um brechó no lugar de lançar coleções.

Chanel nem se fala. A receita é tão velha quanto o próprio Karl (Lagerfeld). A Dior que nunca teve muita personalidade. Agora vai ficar bebendo água de rio que secou. Lanvin com (Alber) Elbaz que não faz parte de nenhum grupo e a que se deu melhor. Ah! se eu tivesse tido a sorte dele de pegar um presidente e um proprietário inteligente que esperaram o tempo suficiente para dar certo!

Gaultier continua brincando de fazer moda, se autorreciclando. Hermès com Cristophe Lemarie vai continuar sem expressão. Se com Gaultier não conseguiu, com o Lemaire eles vão fazer o melhor cashmere do mundo – realmente estamos precisando disso? Saint Laurent com Slimane – ele é bom e tem talento, talvez não para Saint Laurent.

Mas tem muita gente boa e interessante na moda, Os novos precisam de talento e armas para poder lutar contra a mediocridade generalizada e confirmada pela internet, onde qualquer cafoninha cyber se acha com direito de falar sobre moda.

PPQO – Por que saiu do Brasil?

Ocimar – Sinto-me muito mais à vontade aqui.

PPQO – Brasil, aliás, nunca mais? Foi muito traumático?

Ocimar – O Brasil sempre! Mas de maneira diferente. Não tenho trauma, estou criando da minha maneira, de fazer “moda”. Nunca me interessou o que já existe, e no Brasil as pessoas e as empresas só gostam do que já existe. Eles têm pavor do novo, medo do que não conhecem. Então que fiquem aí curtindo o que já foi feito, e fazendo suas viagens duas vezes por ano para ver o que está sendo feito aqui na Europa. Eu prefiro fazer algo que as pessoas venham ver.‘Se você acha que alta-costura é cara, não é ela que tem um problema, e sim você’, diz Ocimar Versolato.

PPQO – A alta-costura ainda faz sentido nesse mundo de fast fashion?

Ocimar – O fast fashion é um modismo, e como tal, daqui a pouco passa ou se transforma. A alta-costura é um estado de espirito, então enquanto houver pessoas elegantes que conseguem elevar seu conhecimento e sofisticação, ela vai existir. O bom é que no mundo existem grupos formados por pessoas realmente sofisticadas e cultas, que não gostam de se expor na mídia, usando roupas exclusivas que sequer são desfiladas – pode ser mais chique?

A exposição virou uma coisa um pouco vulgar no mundo. A descoberta de assessor de imprensa por pessoas sem noção que não são nada!

Comprometeu muito a imprensa, as noticias de fast-celebrities, e aí vem a internet de novo e compacta a miséria e a embala. Por isso…viva a Alta-Costura.

PPQO – Quem, de fato, faz alta-costura hoje?

Ocimar – Tem poucos que fazem e é melhor assim. Tem de ser feito e tratado como uma joia, e para isso tem que ter a alma alta-costura. Não precisa ser velho e nem andar de terno, mas ser uma pessoa sofisticada, culta, interessante, com personalidade e estilo próprio. Tem de agregar à roupa. Não é só um monte de tecido amarrado e costurado, por isso poucas clientes merecem e poucos estilistas podem fazer.

O costureiro tem de conhecer a técnica de fazer roupa, senão pode virar a coleção de alta-costura Dior feita por Raf Simons, que e ótimo em masculino e fazendo roupa para lesbica chic (que no fundo é a mesma coisa). Mas alta-costura é de chorar de rir.

Coitadas das costureiras tendo de fazer aquele festival de horror, os sem-noção aplaudem e a imprensa fica quieta. Senão não é chamada e não assiste mais desfile do grupo, como foi feito com Suzy Menkes, quando criticou o desfile da Dior com o Galiano- teve de se retratar e fazer comentários sem graça.

Mas ainda bem que temos a internet e todas as cyber-fashion do mundo podem ficar deslumbradas à vontade. Quem sabe no próximo desfile elas ganham um convite. Isso é alta-costura?

PPQO – Por que ela é tão cara? Quem ainda compra?

Ocimar – Compra quem não acha ela cara. Se você acha que ela é cara, não é ela que tem um problema, e sim você. O valor de algo não se mede ao que você pode ou não ter. É muito simplista.

PPQO – O que faz ela ter esse valor?

Ocimar – O preço corresponde praticamente ao trabalho feito, tempo de mão-de obra. Isso é o que deixam as peças caras, pois existe todo um trabalho de preparação e depois de execução que não é pouco, e a mão-de-obra é especializada e muito específica. Tudo isso conta, e mais o talento de quem criou, que passou horas ou dias ajustando tudo para que a roupa ficasse perfeita. Ninguém economiza nem em ideia e nem em desejo. Tudo é muito generoso, por isso o preço é apenas um detalhe.

PPQO – Você vem acompanhando a moda brasileira? Alguém ou alguma coisa chama sua atenção?

Ocimar – Não, nunca acompanhei. Para falar a verdade, é uma coisa que não faz parte do meu interesse em particular, assim como o que é feito e que chamam de moda na China e na Russia. Com a internet ficou fácil agora saber das semanas de moda do mundo todo, e isso é uma coisa que dá medo, a moda dos chamados BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Momento Discovery: você sabia que somente 3% da população mundial tem o chamado bom gosto, 97% são pessoas de mau gosto? E desses 97%, quantas cafonas pensam que são chiques? Acredito que 96%, entendeu o problema? E um cafona apresentando para outro cafona que fala para outro usar, e todos se achando o máximo, é um filme de terror de segunda.

PPQO – O europeu conheceu a moda brasileira ou sabem de Gisele e Havaianas?

Ocimar – Eu nunca fiz essa pergunta a ninguém, e a maioria nem sabe que sou brasileiro. Vou te contar duas passagens. Na primeira eu estava fazendo o casting para minha primeira coleção de alta-costura, o qual tinha Carmem Kass, Jodie Kidd etc. Daí me liga um amigo da agência Marilyn, o Roberto, e me diz que tinha uma brasileira que era uma coisa de outro mundo que eu tinha de ver. E aí me liga o Rafael, da Elite, e diz a mesma coisa.

Eu já tinha fechado o casting, mas por curiosidade e respeito a meus amigos marcamos o casting. Chegaram Fernanda Tavares, da Marilyn, e Gisele, da Elite, Juntas e com a Shela, mãe de Fernanda, tomando conta das duas. Normalmente quem fazia o casting era o Jay Alexander, que era apaixonado por modelos e moda, e ensinava as modelos a desfilar. O Jay veio e falou que realmente valeria a pena. Quando vi as duas, senti que ali tínhamos duas grandes tops. E lógico que desfilaram

A outra: estava fazendo a prova dos vestidos da Rosana Camargo Botelho, casada com o Fernando Botelho, quando uma assistente da alta-costura me disse que o marido da cliente estava impaciente no salão. Como tínhamos alguns vestidos e as provas não costumam ser muito rápidas, eu fui até o salão em que se encontrava esse senhor.

Eu me apresentei e começamos a conversar. Ele me falou de sua paixão por avião, o que eu particularmente também adoro, ele disse que pilotava etc. Até que ele me fez uma pergunta: se eu tinha quem fizesse sapato para meus desfiles. Disse que sim e aí ele disse se eu achava Havaianas cafonas, se eu usaria.

Eu não tenho preconceito com nada e nem posso ter, perguntei por quê? E ele disse que as Havaianas fazia parte do grupo de empresas deles. Se eu quisesse, eles poderiam desenvolver algum modelo especial para mim. Foi, então, desenhado um modelo de sandália, mas ficou muito ruim. Junto eles enviaram uma quantidade enorme de sandálias, caixas e caixas.

Naquele dia, tinha marcado de almoçar com Babeth Djiant, da revista NUMERO. Mostrei as sandálias e ela disse que tava com vontade de descer do salto, e sugeriu de eu colocar as sandálias com os vestidos de noite, o que foi aprovadíssimo na hora. Ela, claro, ganhou de presente alguns pares, as Havaianas desfilaram com os vestidos de noite e etc.

Depois dei mais pares para as modelos e jornalistas, que acharam engraçado, e assim foi. Saiu em algumas revistas no início com crédito a Ocimar Versolato. O grupo não foi bobo e aproveitou a onda.

PPQO – Se pudesse escolher, quais peças escolheria para um homem e para uma mulher serem, de fato, sexy?

Ocimar – Para homem, acho que o smoking é muito sexy, mas tem de ser jovem para usar e ficar sexy – velho usando vira uniforme. Para a mulher, um vestido de noite pode ser muito sexy, mas é a mesma coisa, tem de ser jovem para ficar sexy, com a idade tem de ser elegante.

PPQO – Você anda mais calmo ou tem algo que ainda não disse sobre sua passagem pelo Brasil e por Paris?

Ocimar – Amo Paris, amo o Brasil, meus amigos são amigos até hoje, não perdi nada da intimidade e nem do carinho. Sou feliz, pois tenho bons amigos e de verdade, no mundo todo. Sempre que passo na vida das pessoas, e se elas foram corretas comigo, terão lembranças maravilhosas. As que aprontaram vão evitar falar meu nome, o que eu agradeço.

Sempre fui calmo, mas não paro um minuto. E isso não me dá tempo de cuidar da vida dos outros e nem de ficar me arrependendo. Gosto do novo, adoro ver uma exposição, um filme novo que me deixe saciado, imagens incríveis inusitadas. Até mesmo histórias boas e bem contadas. Gosto de ver as pessoas darem suas opiniões erradas – isso não me incomoda mais, gosto de ver a decadência – significa que algo novo pode estar vindo.

O importante é estar vivo e vivendo muito, porque viver vulgarmente, hipocritamente e mediocremente não me interessa, e isso não tem dinheiro que compre”.

Boa viagem, amigo.

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Acha swing moderno? Então você não conhece a “festa da chave” http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/04/acha-swing-moderno-entao-voce-nao-conhece-a-festa-da-chave/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/12/04/acha-swing-moderno-entao-voce-nao-conhece-a-festa-da-chave/#respond Mon, 04 Dec 2017 06:00:48 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=221  

Jaci XIII

Quem tem mais de 50 anos lembra da festa da chave, muito comum nos anos 1970. Eu não tenho essa idade (ainda), mas conheço gente que frequentou algumas e é só elogios.

Funcionava assim: você ia com seu companheiro ou sua companheira (heterossexuais, na maioria das vezes) e deixava a chave do carro num depósito, num vaso ou qualquer coisa que o valha.

Veja também:

Ao sair, já meio assim, meio assado, um dos casados (geralmente a mulher) resgatava uma chave qualquer nesse objeto e, de pronto, deveria ir para a casa na carona do dono do tal molho. Detalhes a observar: naquela época o politicamente correto não era sequer cogitado, aids era um pesadelo distante, e Lei Seca era festa regada a água ou refrigerante, ou seja, tava tudo liberado. Em tese, ao menos.

O problema é quando a química entre a pessoa e o moço desconhecido (às vezes, o melhor amigo do marido) não rolava ou aparecia um ciumento de última hora. Mas nada grave: uma outra festa da chave estaria a caminho. Você já foi a alguma? Se foi, conta aqui, vai. E será que festinhas assim teriam espaço hoje em dia? Tomara que no dia de Natal você participe de uma.

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Quando apresentar um novo amor aos amigos e parentes? Faça um check-list http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/11/28/quando-apresentar-um-novo-amor-aos-amigos-e-parentes-faca-um-check-list/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/11/28/quando-apresentar-um-novo-amor-aos-amigos-e-parentes-faca-um-check-list/#respond Tue, 28 Nov 2017 06:00:31 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=215

Divulgação

Um amigo disse que tinha o péssimo costume de apresentar contatos novos aos mais chegados, por volta da terceira noite de sexo. Ele, crente que já está namorando, apresenta a novidade aos íntimos no afã de uma nota de aprovação. Erro estratégico absoluto. Você tem de passar por uma série de fases antes de levar um/uma cúmplice para os grandes salões de baile. Vamos a eles:

1. Há a fase do sexo: precisa ser bom ou boa de cara. Da primeira vez passa (ambos podem estar embriagados), mas da segunda em diante a pele tem de gritar.

2. Do jantar a dois: e se a pessoa come de boca aberta, gosta de carne sangrando, e você é vegetariano, ou usa palitinho para tirar fiapos de manga?

3. Da agenda cultural: só vê filme pirata e odeia ir a shows? Gosta de pagode e você de música clássica?

4. Do tato com o mundo externo: destrata velhinhas na rua, chuta cachorros?

Só a partir de uma série de ticagens, e isso pode durar uns quatro meses, deve-se levar para o primeiro jantar com dois dos melhores amigos. Daí abre para mais dois, e assim por diante.

Conhecer sogra, cunhada e sobrinhos alheios? Conte um ano. Se não durar dois encontros, bom, certamente, não era caso de lesbianismo, porque, reza a lenda, duas mulheres providenciam juntar as escovas de dentes já no segundo encontro.

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Você só pode falar sobre aquilo que vivenciou ou sofreu na pele? http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/11/20/voce-so-pode-falar-sobre-aquilo-que-vivenciou-ou-sofreu-na-pele/ http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/2017/11/20/voce-so-pode-falar-sobre-aquilo-que-vivenciou-ou-sofreu-na-pele/#respond Mon, 20 Nov 2017 06:00:30 +0000 http://joaoluizvieira.blogosfera.uol.com.br/?p=288

Joao Xavi/Visualhunt

Experiência e compreensão são uma coisa só? Melhor dizendo, não é porque você é heterossexual que, necessariamente, compreende a heterossexualidade. Ou se homossexual, a homossexualidade. Ou transexual, a transexualidade, e assim por diante. Pode-se também entender a fundo a própria identidade, o gênero ou a orientação, mas, a princípio, é uma vivência, legítima, mas muito mais um sentir que um saber.

Feridas, entretanto, podem tanto nos levar ao conhecimento quanto ao equívoco sobre a dor, já que há uma intimidade com aquela problemática, ou seja, pode-se sentir e saber como consequência de um sangramento emocional e/ou físico. Antes mesmo de identificar quem é aliado ou adversário numa conversa, porém, parte considerável da juventude militante desta contemporaneidade vem expelindo discursos inflamados se não identifica, à primeira impressão, cortes iguais.

O raciocínio veio depois de uma palestra da qual participei na semana passada, e sei que o caso não é isolado, por isso usarei como ilustração. A pauta do evento, para artistas, era gênero, e eu apresentaria apenas um panorama sobre o tema. Nada muito formal, sem recursos imagéticos. Um microfone e uma proposta de diálogo. Ao meu lado, uma atriz que se assumiu travesti e falaria sobre os percalços que a forjaram até ali, tendo como epílogo seu acolhimento como profissional das artes cênicas por uma companhia de teatro. Ela abriu a conversa, emocionou-se foi, justamente, aplaudida, e desviamos a conversa para a transexualidade.

Durante minha improvisada explanação, em que deixei claro não ter como falar sobre vivência transexual já que era cis, ouvi uma voz de mulher que vinha do escuro da plateia. Ela se disse travesti, profissional do sexo, e pediu lugar no palco. Automaticamente, a organização entregou-lhe um microfone, um espaço e um foco de luz. Eu havia iniciado o bate-papo questionando o ódio como forma de relevância em grupos sociais numa afoita temporada de desamor, além do enfrentamento sobrepondo-se ao armistício. Tudo o que eu havia proposto até ali, diálogo, porém, virou monólogo autodefensivo, por vezes agressivo, diante, veja você, de um grupo acolhedor.

Sentado ao lado de uma mulher vivenciada, preferi desligar meu microfone e hierarquizei as vozes. Ela em primeiro lugar. A palestra, portanto, ganhou em ciência e vivência. Ou assim pensei. Estava indo tudo bem, até que ela cindiu o chão com mais certezas que dúvidas a meu respeito (que ela acabara de conhecer) e, com o som do microfone em perfeito estado, explodiu em convicção: “Você não tem lugar de fala aqui por ser branco, cisgênero, heteronormativo, e de meia-idade. Sou nordestina (cearense), e na minha chave trago um canivete”.

Apesar de estar ali como um aliado nas questões referidas, que poderia e posso levar a ambientes onde aquelas personalidades não teriam acesso por eu ter, evidentemente, privilégios, fui sendo empurrado para o silêncio. Saí do Teatro da Rotina, em São Paulo, concluindo que, ao que parece, estamos perdendo, dia a dia, a capacidade de criar empatia com quem emite uma opinião (ou tem vivência) diferente da nossa, implodindo o que mais gostava na comunicação: ouvir o outro.

Os representantes dos lugares de fala, consciente ou inconscientemente, estão criando um vácuo na linguagem, o lugar do não ouvir. Em vez de educar e nos educarmos, estamos partindo para o confronto antes mesmo de garantir o direito da dúvida, e nem vou falar de entender o outro. Quem diria que em 2017 pensar diferente, e expor um ponto de vista, fosse um ato de coragem? Antes que me esqueça, não estou “lacrando” nada. Menos combate, mais debate. Proponho um novo diálogo para quem, sabe, juntos, voltemos a nos entender porque o fim da estrada é só parte do caminho. Ou não?

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