Topo

Histórico

Categorias

João Luiz Vieira

A mulher que conheceu um amor enquanto estava roncando

João Luiz Vieira

13/11/2017 04h00

Getty Images

A gente se arruma todo para sair. Volto: a gente se arruma todo para caçar. Sim, não sei de você, mas eu não saio para beber e comer sem segunda intenção. Sempre, desde os tempos imberbes. Mas, enfim, sai armado e às vezes nada acontece. O que fazer? Hora de repensar a estratégia.

Uma amiga conheceu o amor da vida dela dormindo. Melhor, roncando. Estava ela no saguão de um aeroporto esperando um voo para Atenas quando, de repente, um italiano, lindo, nascido em Capri, com cabelos nos ombros, de terno, perguntou, em inglês:

— A senhora poderia ocupar uma só cadeira? Porque o saguão está lotado e meu voo será longo.

Sim, exausta, sem planos imediatos, ela dormia em duas cadeiras desde o tempo em que o saguão estava vazio. Com a maquiagem semiborrada, ela pensou que estava chegando no Saara e aquilo tudo era uma miragem. Mas obedeceu, ainda sonada. Quando ele olhou melhor para a atrevida e soltou a segunda, ela quase pediu um Prozac:

— Lindas as suas botas.

Recapitulo: um italiano, lindo, nascido em Capri, com cabelos nos ombros, de terno, pergunta, em inglês, sobre as botas de uma mulher que ama sapatos. Imagine o que aconteceu depois. Ela descobriu que ele iria para Mykonos, como ela. Conversaram horas sobre Brasil, Itália e Grécia.

Em Mykonos, bem, ela quase nem conheceu Mykonos. Foi sexo de segunda a segunda, de manhã até de manhã. Muitas vezes seminua. Porque ela fazia questão de transar usando as botas que lhe garantiram o italiano. Como ele, além de lindo, era rico, não fez muito esforço para grudar nela.

Rico que é rico mesmo nem mala tem. Leva consigo apenas o cartão de crédito, e faz compras básicas no lugar onde desembarca. E assim foi feito. Depois de um ano entre idas e vindas, e-mails, telefonemas e pombos-correios, hoje ele vive com ela em São Paulo, no apartamento em que ela reservou um espaço exclusivo para as botinas.

É assim: quem espera nem sempre cansa. A mãe de uma vizinha foi cantada pelo porteiro. Não é que ela gostou? Ele se aposentou, é dono de um pequeno negócio próspero, e aquela senhora hoje o namora. Atenção por onde anda: de repente você conhece o amor de sua vida enquanto ronca.

Sobre o autor

João Luiz Vieira, 47, é jornalista, roteirista, letrista e educador sexual, ou sexólogo, como preferir. Ele tem dois livros lançados como coordenador de texto: “Sexo com Todas as Letras” (e-galáxia, fora de catálogo) e “Kama Sutra Brasileiro” (Editora Planeta, 176 páginas). É sócio proprietário do site paupraqualquerobra.com.br e tem um canal no YouTube: sexo_sem_medo.

Sobre o blog

No blog dialogo sobre tudo o que nos interessa para sermos melhores humanos: amor e sexo. Vamos encurtar o caminho entre a dúvida e a certeza, e quanto mais sabermos sobre nós, teremos, evidentemente, mais recursos e controle a respeito do que fazer em situações inéditas ou arriscadas de nossa intimidade. Trocaremos todas as interrogações por travessões. Abra seu cabeça, seu coração e... deixa pra lá.

João Luiz Vieira