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João Luiz Vieira

O que fazer quando o confundem com um ator pornô?

João Luiz Vieira

23/10/2017 04h00

A coluna da semana passada, sobre a tentativa de se fazer sexo (ou até encontrar um amor) na era dos aplicativos, rendeu uma suíte, como chamamos os desdobramentos de um tema no jargão jornalístico. Chegaram por e-mail relatos de algumas experiências positivas e outras desastrosas (a maior parte). Um deles foi, especialmente, contundente. Um rapaz foi confundido com um ator pornô assim que entrou no quarto de hotel com outro moço que conhecera minutos antes, depois de dias de flerte (eu sei, substantivo anacrônico) pelo celular.

Assim que tirou a roupa, o rapaz não viu um, mas vários filmes passarem por sua cabeça. O acompanhante fez e exigiu que o outro fizesse quase todas as práticas sexuais encontradas nesse clipes pornôs de até quatro minutos. Beijo na boca só uma vez, como aperitivo, e foi chupão. Seguiu-se felação (excitar o pênis alheio com a boca), chuva dourada (urinar no outro), gagging (dentre outras possibilidades, provocar o sufocamento do parceiro utilizando-se de um pênis), tapas no rosto, lambida de dedos dos pés até que se chegou à proposta de fistar (penetrar o ânus de alguém com mãos, antebraços, braços, pés e/ou com objetos). O rapaz relatou que, em pânico, disse não, pediu desculpas, a conta e um uber.

Ficou em dúvida se foi bom ou uma tragédia ser confundido com um ator pornô. Há casos mais dramáticos que esse, outros que deram em casório, mas o fato é que muita gente anda se distraindo demais com filmes pornôs, facilmente acessíveis na internet e, de tanto assistirem, tentam reproduzir as performances dos atores profissionais, muitas delas editadas, no primeiro encontro. Isso é bom? Depende. Se não causar dor ou prejuízo, e se estamos falando da relação entre adultos, teoricamente está tudo certo. O problema é que isso vem atrapalhando o desenvolvimento da sexualidade de adolescentes.

É preciso discernir realidade de encenação e, principalmente, entender que, mesmo cenas entre "amadores" é, sim, ensaiada. Além disso, tem-se a impressão que todos precisam ser bem dotados, não sentem dor e não correm riscos de se contaminar com infecções. Adolescentes, em sua maioria, não têm maturidade para atentar para esses pormenores, e tendem a idealizar as primeiras relações sexuais de suas vidas, comparando medidas e atuações dos indivíduos. Ademais, o sexo vai ficando melhor quando se adquire intimidade e os cheiros já foram traduzidos por ambas as partes. Sexo é integração e não (ao menos não deveria ser) competição.

 

Sobre o autor

João Luiz Vieira, 47, é jornalista, roteirista, letrista e educador sexual, ou sexólogo, como preferir. Ele tem dois livros lançados como coordenador de texto: “Sexo com Todas as Letras” (e-galáxia, fora de catálogo) e “Kama Sutra Brasileiro” (Editora Planeta, 176 páginas). É sócio proprietário do site paupraqualquerobra.com.br e tem um canal no YouTube: sexo_sem_medo.

Sobre o blog

No blog dialogo sobre tudo o que nos interessa para sermos melhores humanos: amor e sexo. Vamos encurtar o caminho entre a dúvida e a certeza, e quanto mais sabermos sobre nós, teremos, evidentemente, mais recursos e controle a respeito do que fazer em situações inéditas ou arriscadas de nossa intimidade. Trocaremos todas as interrogações por travessões. Abra seu cabeça, seu coração e... deixa pra lá.

João Luiz Vieira